sábado, 9 de maio de 2009

Francisco Louçã, economista?

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Previsão



Acho que este ano vai ser muito correcto, muito asaeado, muito asséptico. Enfim, uma grande seca.

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sábado, 29 de dezembro de 2007

O Navigator morreu, viva o Firefox!

Nos anos 90 do século passado aconteceu uma grande alteração na utilização dos computadores pessoais, que deixaram de ser máquinas isoladas ou confinadas à rede local.

Para começar houve uma grande aceleração na velocidade de comunicação: durante muitos anos os modems vegetaram entre os 300 e 2400 bps (bits por segundo, oh yeah, 37½ a 300 caracteres por segundo) e na primeira metade da década 90 os modems a preços razoáveis atingiram os 32.000 bps.

Depois houve o acesso público à rede internet. Até aí as comunicações estavam limitadas aos bulletin board systems [BBS], que eram basicamente bibliotecas de ficheiros cujo interesse esgotava após dois ou três meses. As ligações eram directas, apenas era possível ligar a um BBS de cada vez; e as mensalidades eram caras.

Em 1994[?] a Telepac começou a disponibilizar o acesso à internet, com pontos de acesso em Lisboa e Porto, outras cidades depois; até ao ponto de acesso pagava-se uma chamada normal, o que tornava a navegação cara durante o dia para quem não vivia nas grandes cidades. A Telepac enviava uma disquete com o instalador do protocolo TCP/IP e alguns programas (telnet, mail, ftp) e na papelada vinham as instruções para ir buscar o Navigator através de ftp.



O Navigator tinha naqueles tempos um nome e simbologia familiares aos portugueses, com a roda do leme cheia de estrelas. Durante alguns anos foi o browser mais utilizado, no entanto más decisões e a concorrência provocaram o seu quase desaparecimento. Arrastou-se durante alguns anos e vai morrer completamente no fim de Janeiro do próximo ano.

Pelo caminho o código do navegador foi libertado para "open source" e a maior parte continua vivo no Firefox.

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sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Os números dão p'ra tudo

Adoro números, dão para sustentar qualquer opinião: basta escolher a boa medição ou a comparação adequada.

Depois da discussão que o salário mínimo [sm] provocou o jcd continua a insistir com a correlação entre o sm e o desemprego espanhóis para sustentar que existe uma casualidade: o sm provoca desemprego.

Por princípio eu não concordo com um salário mínimo legal. Que sindicatos e confederações acordem valores de referência, entre eles um mínimo, tudo bem. Mas valores obrigatórios têm um sabor a falta de liberdade: se duas pessoas acham que o valor adequado de uma tarefa é menor que o sm porque raio de carga de água não o podem praticar?

A verdade é que podem. Com trabalho à hora ou economia paralela, por exemplo, ninguém impede o entendimento entre as partes. O pior é que, geralmente, não se trata de entendimento: é uma imposição da parte empregadora conseguida com a abundância do que a outra parte tem para oferecer -- se tu não aceitas outro o fará, e para ti nada restará. O que leva à questão do desemprego.

O desemprego é o maior inimigo de quem quer vender o trabalho. Eu até aprecio as ideias libertárias de jcd e restantes blasfemos, de relações livres estabelecidas entre iguais e outras tretas do género. Mas com desemprego uns são mais iguais que outros, e a abolição do sm não resolve o problema -- pode criar algum emprego pouco remunerado, se virmos a questão apenas pelo lado positivo.

Ah, estou a afastar-me do tema: os números que dão p'ra tudo. Enfim, eu até acredito na sinceridade do jcd. Mentes simples, convicções fortes. Mas já não creio na inocência do ministro Correia de Campos quando referiu que o bloco de partos em Chaves era o pior em número de cesarianas [não consigo confirmar a frase exacta].

A decisão deve ter sido bastante mais complexa e apresentá-la apenas através do pior indicador é pouco honesto. É fácil pegar num mau indicador para denegrir algum sítio ou alguém, como vou fazer a seguir:

Segundo uma notícia do DN três em cada quatro empregadores portugueses têm o nível mais baixo de ensino. Estes 75% comparados com os 45% espanhóis e 24% europeus permitem uma conclusão inequívoca: a culpa do mal amado atraso português, mai-lo parco rpc e todo o resto é única e exclusivamente do baixo nível de ensino dos empregadores portugueses.

Ou culpa dos paizinhos, que não obrigaram os filhinhos a frequentar a escolinha. Perceberam ou precisam de um gráfico?

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domingo, 4 de novembro de 2007

Mentiras perigosas

Em 5 Fevereiro 2003 o antigo secretário de estado estado-unidense Colin Powell afirmava no conselho de segurança das Nações Unidas que possuía fontes credíveis [solid sources] permitindo confirmar a existência, no Iraque, de armas químicas e biológicas. Seis semanas depois o Iraque era invadido e até hoje essas armas nunca foram reveladas; nem sequer as instalações mostradas em imagens de satélite foram confirmadas, e hoje [quase] todos pensam que as chamadas armas de destruição maciça [ADM] não existiam.

Na referida apresentação Colin Powell mencionava quatro testemunhas que confirmavam a produção das ADM. Uma referenciava simplesmente meios de transporte, outra mencionava meios de produção móveis e uma terceira falava de meios de investigação móveis, tudo sem pormenores; a principal testemunha era mais explícita:
The source was an eyewitness, an Iraqi chemical engineer who supervised one of these facilities [...] This defector is currently hiding in another country with the certain knowledge that Saddam Hussein will kill him if he finds him.

Segundo o programa "60 minutos" que a CBS vai apresentar hoje, e provavelmente será um dia transmitido na SIC notícias, essa tal testemunha era afinal um aldrabão: "não só um mentiroso, mas também um ladrão e um fraco estudante em vez do engenheiro químico que dizia ser". Segundo parece ele mentiu para aumentar a sua importância e conseguir mais facilmente asilo na Alemanha.

Eu penso que do ponto de vista da administração estado-unidense as ADM foram apenas mais um pretexto para a invasão. Mas pergunto-me qual foi a importância do testemunho do senhor Alwan na decisão dos outros países, e qual seria a diferença se os Estados Unidos não tivessem sido apoiados por Reino Unido e Espanha primeiro, Polónia e Dinamarca depois.

Pode o bater de asas de uma borboleta provocar um tufão?


Actualização segunda-feira, 5 de Novembro de 2007:

Penso que a reportagem está totalmente no YouTube em duas partes.

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sábado, 27 de outubro de 2007

Uma indefinida utopia liberal

O João Miranda insiste em dar uma ideia da escola pública bastante diferente daquela que eu tenho. Segundo ele existe "uma certa utopia de escola pública […] que […] acabará com as diferenças sociais e produzirá igualdade de resultados". No entanto "todo o esforço público para vencer as barreiras sociais é afinal inútil".

Igualdade de resultados? Uma ideia ridícula, se levada à letra. Qualquer pessoa que tenha participado em processos de ensino sabe que não existe igualdade à chegada. E que os resultados obtidos dependem parcialmente da situação à partida.

Pior, do ponto de vista da igualdade: geralmente são aqueles que já possuem alguns conhecimentos que mais evoluem. Em grupos muito heterogéneos esse resultado é ainda mais evidente, e a única forma de aumentar a igualdade seria nivelar por baixo!

Realmente a tal utopia até existe. Mas geralmente a escola é associada a igualdade de oportunidades. A contagem de resultados no Google é uma medida empírica, mas com 999 vs 242.000 referências assumo que os utópicos são uma minoria. Porque insiste o João Miranda nesta imagem?

Digo eu, porque com aqueles objectivos a escola pública só podia falhar. Só por acaso se poderiam atingir objectivos que poucos perseguem. O que o João Miranda pretende é transmitir a pior imagem das escolas públicas, que "serão sempre medíocres" porque não podem seleccionar os alunos.

Isto não significa que a igualdade de oportunidades absoluta é possível. O que eu pretendo da escola pública são oportunidades razoáveis para todos. E penso que só a escola pública as pode dar. Se alguns têm melhores oportunidades na escola privada, bom para eles.

Qual é a alternativa do João Miranda? Apenas escolas privadas? Era bom que o João dissesse de vez em quando o que pretende, em vez de se limitar a criticar tudo o que cheire a "público" ou "estado".

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terça-feira, 23 de outubro de 2007

Não invocarás a lei em vão

Segundo uma notícia publicada no DN o INFARMED refere que "face à lei actualmente em vigor [a venda de medicamentos a crédito] não é permitida". Dado que não conheço restrições à concessão de crédito para qualquer outro produto, e um medicamento é geralmente um bem de primeira necessidade, "a lei actualmente em vigor" é difícil de engolir. Qual lei?

Recorrendo ao próprio sítio da INFARMED podemos pesquisar a legislação farmacêutica compilada com a palavra crédito para obter duas referências ao "pagamento, às farmácias, da comparticipação do Estado no preço dos medicamentos". Não parece que seja por aqui, o tema é um pouco ao lado: rectificações de facturas, a crédito ou a débito — mas também podemos ver pagamentos a [longo] prazo como um crédito forçado.

E que diz o nosso amigo Google? Pesquisando com "medicamentos a credito": desde uma iniciativa da ANF que vai lançar um cartão de crédito que dará descontos em medicamentos, até um artigo da OF onde é reconhecida a existência de milhares de doentes a quem as farmácias cedem medicamentos a crédito, tudo indica que, se a lei existe, não é para cumprir.

O que parece que existiu foi pelo menos uma suspensão decretada pela ANF de fornecimentos de medicamentos a crédito aos beneficiários do SAMS, como se pode ler neste Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa. Mas as deliberações internas de uma associação não são lei.

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