Adoro números, dão para sustentar qualquer opinião: basta escolher a boa medição ou a comparação adequada.
Depois da discussão que o salário mínimo [sm] provocou
o jcd continua a insistir com a correlação entre o sm e o desemprego espanhóis para sustentar que existe uma casualidade: o sm provoca desemprego.
Por princípio eu não concordo com um salário mínimo legal. Que sindicatos e confederações acordem valores de referência, entre eles um mínimo, tudo bem. Mas valores obrigatórios têm um sabor a falta de liberdade: se duas pessoas acham que o valor adequado de uma tarefa é menor que o sm porque raio de carga de água não o podem praticar?
A verdade é que podem. Com trabalho à hora ou economia paralela, por exemplo, ninguém impede o entendimento entre as partes. O pior é que, geralmente, não se trata de entendimento: é uma imposição da parte empregadora conseguida com a abundância do que a outra parte tem para oferecer -- se tu não aceitas outro o fará, e para ti nada restará. O que leva à questão do desemprego.
O desemprego é o maior inimigo de quem quer vender o trabalho. Eu até aprecio as ideias libertárias de jcd e restantes blasfemos, de relações livres estabelecidas entre iguais e outras tretas do género. Mas com desemprego uns são mais iguais que outros, e a abolição do sm não resolve o problema -- pode criar algum emprego pouco remunerado, se virmos a questão apenas pelo lado positivo.
Ah, estou a afastar-me do tema: os números que dão p'ra tudo. Enfim, eu até acredito na sinceridade do jcd. Mentes simples, convicções fortes. Mas já não creio na inocência do ministro Correia de Campos quando referiu que o bloco de partos em Chaves era o pior em número de cesarianas [
não consigo confirmar a frase exacta].
A decisão deve ter sido bastante mais complexa e apresentá-la apenas através do pior indicador é pouco honesto. É fácil pegar num mau indicador para denegrir algum sítio ou alguém, como vou fazer a seguir:
Segundo uma notícia do DN
três em cada quatro empregadores portugueses têm o nível mais baixo de ensino. Estes 75% comparados com os 45% espanhóis e 24% europeus permitem uma conclusão inequívoca: a culpa do mal amado atraso português, mai-lo parco rpc e todo o resto é única e exclusivamente do baixo nível de ensino dos empregadores portugueses.
Ou culpa dos paizinhos, que não obrigaram os filhinhos a frequentar a escolinha. Perceberam ou precisam de um gráfico?
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