sábado, 27 de outubro de 2007

Uma indefinida utopia liberal

O João Miranda insiste em dar uma ideia da escola pública bastante diferente daquela que eu tenho. Segundo ele existe "uma certa utopia de escola pública […] que […] acabará com as diferenças sociais e produzirá igualdade de resultados". No entanto "todo o esforço público para vencer as barreiras sociais é afinal inútil".

Igualdade de resultados? Uma ideia ridícula, se levada à letra. Qualquer pessoa que tenha participado em processos de ensino sabe que não existe igualdade à chegada. E que os resultados obtidos dependem parcialmente da situação à partida.

Pior, do ponto de vista da igualdade: geralmente são aqueles que já possuem alguns conhecimentos que mais evoluem. Em grupos muito heterogéneos esse resultado é ainda mais evidente, e a única forma de aumentar a igualdade seria nivelar por baixo!

Realmente a tal utopia até existe. Mas geralmente a escola é associada a igualdade de oportunidades. A contagem de resultados no Google é uma medida empírica, mas com 999 vs 242.000 referências assumo que os utópicos são uma minoria. Porque insiste o João Miranda nesta imagem?

Digo eu, porque com aqueles objectivos a escola pública só podia falhar. Só por acaso se poderiam atingir objectivos que poucos perseguem. O que o João Miranda pretende é transmitir a pior imagem das escolas públicas, que "serão sempre medíocres" porque não podem seleccionar os alunos.

Isto não significa que a igualdade de oportunidades absoluta é possível. O que eu pretendo da escola pública são oportunidades razoáveis para todos. E penso que só a escola pública as pode dar. Se alguns têm melhores oportunidades na escola privada, bom para eles.

Qual é a alternativa do João Miranda? Apenas escolas privadas? Era bom que o João dissesse de vez em quando o que pretende, em vez de se limitar a criticar tudo o que cheire a "público" ou "estado".

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terça-feira, 23 de outubro de 2007

Não invocarás a lei em vão

Segundo uma notícia publicada no DN o INFARMED refere que "face à lei actualmente em vigor [a venda de medicamentos a crédito] não é permitida". Dado que não conheço restrições à concessão de crédito para qualquer outro produto, e um medicamento é geralmente um bem de primeira necessidade, "a lei actualmente em vigor" é difícil de engolir. Qual lei?

Recorrendo ao próprio sítio da INFARMED podemos pesquisar a legislação farmacêutica compilada com a palavra crédito para obter duas referências ao "pagamento, às farmácias, da comparticipação do Estado no preço dos medicamentos". Não parece que seja por aqui, o tema é um pouco ao lado: rectificações de facturas, a crédito ou a débito — mas também podemos ver pagamentos a [longo] prazo como um crédito forçado.

E que diz o nosso amigo Google? Pesquisando com "medicamentos a credito": desde uma iniciativa da ANF que vai lançar um cartão de crédito que dará descontos em medicamentos, até um artigo da OF onde é reconhecida a existência de milhares de doentes a quem as farmácias cedem medicamentos a crédito, tudo indica que, se a lei existe, não é para cumprir.

O que parece que existiu foi pelo menos uma suspensão decretada pela ANF de fornecimentos de medicamentos a crédito aos beneficiários do SAMS, como se pode ler neste Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa. Mas as deliberações internas de uma associação não são lei.

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segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Tá tudo louco

Esta é daquelas que tenho de ler várias vezes, para confirmar a minha tradução. Inacreditável: a inglesa "Performing Right Society" [PRS], que cobra os chamados direitos de execução, pretende que uma cadeia de oficinas pague 200 mil libras porque a música ouvida pelos empregados é audível pelos clientes!

Para tua informação, as estações de rádio já pagam direitos de execução. As regras são, naturalmente, nacionais; por exemplo, nos EU as rádios tradicionais não pagam. No RU pagam, acreditando em declarações como esta. Isto é, o cliente pode ouvir a estação de rádio se trouxer o aparelho "individual", mas não pode ouvir através do material da casa.

Não consegui obter uma versão da PRS, por isso ficam algumas dúvidas. Estavam os empregados a utilizar aparelhos próprios, ou a rádio era difundida através de meios da empresa? Uma empresa necessita licença para transmitir rádio exclusivamente para funcionários? E se escutarem apenas notícias? Em Portugal a legislação é confusa como costuma ser; a entidade reguladora é a PassMúsica (sítio horrível, sediado nos EU).

O teu leitor mp3 é fatela e bota bué da som ká pra fora? Baixa o vol, meu, ou arriscas uma multa. É o que fazem na oficina de motos Bedlam Scooters, Bedford: quando entra um cliente desligam o rádio.

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quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Free Burma!

Poisoned legends started to insurrect when the doomed sky refused to shine. Dathana blog here in the quest for the key of sky.

May the people's wish fulfilled

Today, I was overwhelmed with excitement for seeing flood of monks and people from all layers marched on the streets. At around 2 pm, about 30thousand of monks passed near the Thein-Gyi market. Majority were monks but people walked at the side of monks holding each others hands. I joined them walked for a coupe of blocks. I couldn't walk along all the way because my parents are such worrisome. On my way back home I met the another marching crowd near YuZana Plaza. This marching crowd is much much greater than previous one. Majority is people this time. I think there must me around 100 thousand of people. Watching people at the side of road showed their support with applause. And slogans people shout is "May the people's wish fulfilled". According to news when that crowd reached Hlel-dan junction the number of people reached to about two hundred thousand. Along the way they walked, monks continuously chanted the goodwill sending prayers.
September 24, 2007


I walked with the parade today too. There were student groups holding fighting peacock flag in the parade. I participated for about half an hour only because of the reason I said before. People's participation is immense even though there is rumors that SPDC will crack down the demonstration violently. All we shouted were good will prayers, and "May the people's wish fulfilled". I mean, the parade just make wishes for peace in all around. There is no slogans like protesting movements.
September 25, 2007

Today, Military (SPDC) started to crack down peaceful demonstrations violently. [...]
September 26, 2007


Os relatos de Dathana e os seus fantasmas estão interrompidos desde 28 de Setembro, quando escreveu que as ligações à rede foram restringidas na Birmânia. No entanto outros blogs continuam activos. Espero que tudo esteja bem com Dathana, e os seus desejos sejam brevemente satisfeitos.

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terça-feira, 2 de outubro de 2007

Quanto queres pagar?

O grupo Radiohead [ ver aqui ] pode ter iniciado, TLQECV, uma forma de vender na rede. Para o próximo trabalho disponibilizam duas formas de venda: a versão para coleccionadores, uma caixa com vinil e CD; e a versão para ouvintes, um conjunto de ficheiros mp3. Agora, a novidade: o preço dos mp3 é deixado ao critério do comprador. A sério, pagas o que quiseres!

(via Boing Boing)

O mais interessante é que este conceito não é aplicável apenas a música, pode ser utilizado em quase todas as distribuições de formatos digitais através da rede. Na maior parte dos casos os custos de produção são independentes do número de cópias distribuídas, não existem caixas ou suportes individuais; os custos de divulgação também não dependem das cópias reais; e a distribuição efectiva é quase toda suportada pelo cliente.

Que perdem os Radiohead com este esquema? Pouco. A maior parte dos clientes que comprariam o trabalho através da rede vão pagar o "normal" estabelecido pelo mercado. Alguns pagarão mais como demonstração de suporte.

Os ganhos são expectavelmente superiores. Para já, na publicidade: há poucos minutos já estavam a falar deste acontecimento na Sic Radical. Depois, no "mundo alternativo": esta forma de venda elimina a "desculpa moral" que alguns utilizam - perante os próprios - para recorrerem à partilha de ficheiros.

Pena é que a música não seja grande coisa.

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